Incluir a diversidade ou diversificar a inclusão?

23 Novembro, 2020

Diversidade e inclusão não são sinónimos e não se compram em pacotes já feitos a que só é preciso juntar água, do tipo 2 em 1. Também não resultam de receitas prontas apenas para “inglês ver” (expressão que nos ficou do tempo dos impérios ultramarinos). Trata-se na verdade, de uma das maiores fontes de flexibilidade, agilidade e desenvolvimento das empresas. Assim reconheceu o próprio FMI, no relatório que emitiu no rescaldo da grande crise financeira de 2008, afirmando que, a falta de capacidade de antever o que ocorrera havia sido sobretudo provocada pela homogeneidade dos seus quadros especializados. Na sua maioria todos do mesmo género, com a mesma história e experiência académica, cultura e meio social. Ou como dizem os holandeses, mas com o mesmo sentido “too much too dutch”.

Grande parte das empresas dedicam hoje algum dos seus esforços estratégicos para atingir um nível de equilíbrio mais adequado e mais próprio de um Mundo desenvolvido. Diversidade significa representatividade da população. É garantir que os diferentes grupos demográficos conseguem aceder às mesmas oportunidades nas organizações. Já a inclusão está um passo além. Não basta ter equipas de trabalho diversas é preciso fazer o necessário para as incluir, garantindo que têm voz e relevância na vida da organização. E sabemos que nem sempre é assim, o que são verdadeiras oportunidades perdidas. Como referiu Malcom Forbes, diversidade é “the art of thinking independently together”.

Há já estudos que comprovam que a performance está estritamente ligada à diversidade, mas apenas aquela que é útil, que é sucedida da inclusão. Ou seja, empresas com mais diversidade (incluída) apresentaram, em estudos longitudinais, não só mais receitas, mais clientes e mais resultados, sobretudo em condições de ambiguidade, que é como sabemos o cenário em que todos devemos trabalhar doravante.

Grande parte dos processos de transformação a que assistiremos no futuro já não funcionarão por recurso ao sistema top down (de cima para baixo), com alguma perda de agilidade podem funcionar bottom up (de baixo para cima) mas só estarão garantidos se a célebre expressão com origem no mundo da auditoria se verificar: Tone at the Top, ou seja literalmente quando o “tom” está no topo, já que uma liderança ética, diversa e inclusiva nas empresas fará sempre a diferença.

Carla Rebelo, Diretora Geral

In Jornal Expresso, 20 de Novembro de 2020