À Descoberta da Pólvora (opinião de Carla Rebelo)

2 Setembro, 2021

 

Sempre admirei a eficiência simples de um comutador de escadas. Este dispositivo liga ou desliga a luz em função do que for adequado fazer no momento específico. Se estamos na direção descendente à saída da escada, queremos que o acionar de um botão desligue a luz e, claro, antes de iniciar a subida que o mesmo movimento a ligue.

Recentes estudos, que advogam a crescente importância dos generalistas num mundo que tem vindo a incentivar à especialização, apontam para a necessidade de pensar em problemas sempre iguais de modo diferente, com uma técnica chamada comummente de “ fora da caixa”, neste caso mais corretamente de “ fora da experiência”, numa era em que predominará um ambiente inóspito e não um ambiente de aprendizagem acolhedor, no qual já sabemos que é a repetição que leva à mestria.

Falemos do pensamento analógico. “O pensamento analógico profundo é a prática de reconhecer semelhanças conceptuais em cenários ou domínios múltiplos que à primeira vista parecerão ter pouco em comum” (David Epstein, Versátil, 2019).

 

Uma série de estudos sobre pensamento analógico na década de 80 relatam alguns exemplos didáticos:

  1. Imagine que é médico (em 1930) e que tem um paciente com tumor maligno no estômago. Não é possível operar, mas para sobreviver o tumor tem que ser destruído. Há uma espécie de raio que pode ser usado para eliminar o tumor se este o atingir com intensidade elevada. Sucede que, a esta intensidade todos os tecidos atravessados pelo raio serão também destruídos.
  1. O fogo numa cabana estava a alastrar rapidamente e a ameaçar vidas. A única fonte de água próxima era um lago com água em abundância. Dezenas de vizinhos revezavam-se a atirar água para cima da cabana, mas sem progressos. O chefe dos bombeiros pediu que parassem, recolhessem água e a lançassem, todos ao mesmo tempo, para cima da cabana. Pouco tempo depois o fogo foi extinto.

 

Depois do segundo caso é habitual que se visualize com mais facilidade a solução do primeiro e isto é a base do pensamento analógico.

Precisamos, portanto, de soluções analógicas para resolver a atual falta de atratividade de uma vaga de emprego face a incentivos ao desemprego que podem ter benefícios superiores à empregabilidade. Incentivos à recolocação, descontos em impostos?… algo capaz de salvar o mercado de trabalho.

 

Carla Rebelo, Diretora Geral da Adecco Portugal in Expresso 27.09