Talento portátil

11 Maio, 2020

Até que ponto é o talento portátil?

Esta foi a pergunta de abertura de Groysberg numa sessão que começava cedo numa manhã de neve em Dezembro passado, em Harvard. O Prof. Boris Groysberg, autor do livro Chasing Stars – The Myth of Talent and the Portability of Performance, defende que apenas uma ínfima parcela da quantidade de talento é totalmente ou quase totalmente portátil. E trabalha alguns mitos que, na sua opinião deveriam reconfigurar a tão discutida guerra pelo talento.

“The people make the place“ tem sido um mantra, quer para os académicos organizacionais quer para os gestores de recursos humanos, há mais de  25 anos.  Groysberg demonstra que, este princípio deve ser conjugado com outro complementar – “the place also makes the people.” Nesta teoria desafia mitos enraizados no mundo corporativo e sugere algumas novas abordagens quanto à atração, retenção e desenvolvimento de talento, a ideia central é a de que “no one works alone.”

Mas afinal o que determina os resultados dos star performers e qual o grau da portabilidade do seu sucesso? A verdade é que “o talento” resulta de general human capital + firm specific human capital. Se, e enquanto, as pessoas acreditarem que o sucesso da empresa contribui para o seu sucesso então não decidirão sair, até porque o ecossistema de cooperação e credibilidade que se deixa quando se troca de empresa tem que ser reconstruído – segundo o autor são necessários em média 2 anos para reconstruir relacionamentos na nova organização. O facto é que, esta influência de via dupla torna a ciência e a prática da gestão de recursos humanos complexa mas também uma fonte potencial de vantagem competitiva, se gerida corretamente.

Nature or Nurture? Há quase 200 anos Francis Galton, o fundador da genética comportamental e do eugenismo procurava uma explicação do ser humano baseada na hereditariedade. Antes disto, John Locke (séc. XVII), propunha a tabula rasa como o ponto de partida do desenvolvimento humano, em que o mesmo dependia do ambiente.

Hoje é incontroverso que somos o resultado de ambas influências e assim parece ser também o segredo do sucesso profissional.

Carla Rebelo, CEO Adecco Portugal

In Jornal Expresso, 9 de Maio de 2020