A IA pode intensificar a escassez de competências se as empresas não agirem imediatamente

8 Maio, 2024

Um inquérito a 2.000 executivos séniores revela que a maioria das empresas adota uma estratégia desequilibrada de contratar vs desenvolver talento e, por isso, uma abordagem à IA centrada nas pessoas poderá criar uma vantagem em termos de talento.

A Adecco Portugal, líder global em soluções de Recursos Humanos, divulga, hoje, o mais recente estudo, do Grupo Adecco, Liderança Resilientedesenvolvido em colaboração com a Oxford Economics. Um inquérito a 2.000 executivos séniores, distribuídos por nove países, no qual se concluiu que é urgente desenvolver competências para maximizar o potencial da Inteligência Artificial (IA) e garantir a empregabilidade dos trabalhadores.  

De acordo com o estudo, mais de metade das empresas inquiridas, em algumas das principais economias mundiais, planeia recrutar um novo talento para enfrentar a adoção massiva da Inteligência Artificial, em vez de requalificar os trabalhadores existentes, o que leva a uma corrida por competências digitais. Assim, 66% afirmaram que irão contratar talento com competências em IA externamente, em comparação com apenas 34% que disseram que irão desenvolver a força de trabalho existente. 

Tendo em conta a procura antecipada por estas competências, 37% dos líderes empresariais referiram que os salários para funções relacionadas com a IA irão “aumentar significativamente” nos próximos 12 meses, comparativamente a apenas 24% para funções de white collar e 9% para funções de blue collar. 

Denis Machuel, Diretor Executivo do Grupo Adecco, refere que: “a Inteligência Artificial está a emergir como um grande disruptor no mundo do trabalho e o caminho atual é insustentável. As empresas devem fazer mais para requalificar e redistribuir equipas de forma a tirar o máximo proveito deste salto tecnológico e evitar perturbações desnecessárias. Contratar não deve ser a única abordagem que as empresas deverão adotar.” 

Contudo, o fosso entre “contratar vs desenvolver” talento é cada vez maior e está também a estender-se a outras competências digitais, com 62% dos líderes a referirem que irão contratar especialistas em literacia de dados externamente, em comparação com 36% que afirmam que irão requalificar ou melhorar as competências das equipas. Da mesma forma, 60% planeiam contratar para preencher lacunas de literacia digital em comparação com 37% que indicam que irão desenvolver capacidades nesta área. 

Os líderes empresariais preveem perturbações significativas no mercado de trabalho mais amplo, com apenas 46% a dizerem que irão redistribuir colaboradores cujos empregos sejam perdidos devido à IA. Mais à frente, 41% afirmam que irão empregar menos pessoas dentro de cinco anos devido à tecnologia. 

O inquérito também descobriu que a lacuna de competências em IA se estende até ao topo das suas empresas, com 57% a manifestarem falta de confiança na capacidade da própria liderança de topo para entender os “riscos e oportunidades” proporcionados pela IA. Apenas 43% deste grupo disse ter programas de formação formal em vigor para melhorar as competências em IA, enquanto apenas 50% indicou que fornece orientação aos colaboradores sobre como utilizar a IA no trabalho. 

Ainda assim, apesar de toda a transformação que a IA provavelmente trará, os líderes empresariais dizem que as competências humanas continuarão a desempenhar um papel crítico no sucesso de qualquer empresa. Uma maioria de 57% refere que o “toque humano” ainda é mais influente do que a IA no local de trabalho, enquanto a criatividade e a inovação são citadas como a principal área onde faltam competências. 

Denis Machuel referiu ainda que: “é imperativo que os líderes não só implementem urgentemente a melhoria de competências em IA, mas também garantam que esta é implementada de forma segura e responsável, mantendo as pessoas firmemente no centro desta transição. A IA deve ser uma ferramenta que apoia o potencial criativo único das pessoas e permite mais tempo para o pensamento estratégico e a resolução de problemas.” 

Sobre a pesquisa 

O Grupo Adecco, em colaboração com a Oxford Economics, inquiriu diretores executivos, diretores de tecnologia, diretores de recursos humanos, diretores financeiros e diretores operacionais de indústrias incluindo aeroespacial, automóvel, energia, saúde e retalho e distribuição nos EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Espanha, Singapura, Austrália e Japão. 

Os países foram selecionados na perspetiva de garantir a cobertura de todas as regiões, com amostras por país que refletem amplamente o seu respetivo peso nos negócios internacionais. 

 

O relatório completo está disponível aqui.  

 

Resumo do relatório e recomendações: 

  1. A IA já impõe mudanças – a IA já entrou em muitas áreas de negócio e os líderes dizem que querem aproveitar o seu poder. 61% dos líderes esperam que a IA seja um fator de mudança para a sua indústria. Este entusiasmo relativamente à IA deve ser usado como alavanca de mudança para ajudar as organizações a evoluírem nos seus planos de transformação. Atualmente, apenas uma em cada dez empresas fez progressos significativos. Os CFOs e CEOs precisam de uma maior convicção sobre a oportunidade da IA para acelerar a sua adoção. 
  2. Os líderes não estão prontos – os líderes precisam de compreender os desafios e as oportunidades da IA antes de poderem definir a estratégia correta. Mas existem graves lacunas de competências nas chefias de topo, com a maioria dos inquiridos a afirmar que não têm confiança nas competências de IA da sua equipa executiva. Isto tem um impacto indireto na disposição da força de trabalho. Para navegar pela agitação da IA, os líderes devem adotar uma mentalidade “adaptativa” – e rapidamente.
  3. Uma estratégia responsável de captação de talento está na base do sucesso da IA – as empresas precisam de criar, desde o início, um enquadramento para a forma como utilizam a IA de forma ética e responsável. É fundamental criar confiança digital para que a IA triunfe no local de trabalho. As equipas devem ter confiança na tecnologia. Políticas responsáveis relativas à IA são cruciais para obter a adesão de toda a empresa, criar confiança e avançar na adoção da tecnologia.
  4. A estratégia “contratar vs desenvolver” talento não é sustentável – a concorrência no mercado de trabalho deverá acentuar-se, uma vez que, quase todas as funções exigem competências digitais e tecnológicas. A maioria das empresas prevê recrutar e não formar as equipas existentes. Esta abordagem ameaça criar escassez de competências que inflaciona os salários. As empresas devem desenvolver competências relevantes na sua força de trabalho para evitar inflacionar a escassez de qualificações e, assim, garantir a empregabilidade dos colaboradores. 
  5. A IA ajuda a criar um negócio centrado nas pessoas – os líderes devem reforçar as características exclusivamente humanas através de coaching, formação e desenvolvimento de liderança. As empresas enfrentam enormes falhas em termos de criatividade, inovação e pensamento crítico. A IA deve ser utilizada para desbloquear o potencial humano, libertando-o do peso das tarefas de trabalho intensivo. Tem também um papel fundamental a desempenhar no reforço das competências interpessoais e na promoção da mobilidade interna.