Imobiliário está mais dinâmico e exigente nas contratações

24 Outubro, 2016

O sector imobiliário está a criar mais emprego. Entre julho e agosto deste ano os centros de emprego nacionais registaram um crescimento de 1192 ofertas para perfis desta área.

Não estamos a falar apenas de consultores imobiliários, mas de uma procura crescente por profissionais com as competências necessárias para “fazer mexer” o sector imobiliário. Neste leque cabem engenheiros civis, arquitetos, profissionais da construção (nas várias especializações), diretores comerciais e de obra, gestores de projeto e sim, também consultores, entre vários outros profissionais. A retoma está em marcha e a criação de emprego acompanha a recuperação do imobiliário nacional. Na semana que antecede a segunda feira virtual de emprego da iniciativa Expresso Emprego Universidades Job Fair, ouvimos os líderes de empresas, parceiros de recrutamento e associações do sector sobre os desafios da empregabilidade no imobiliário nacional.

O Expresso já tinha revelado que entre janeiro e setembro deste ano o sector do imobiliário e construção gerou 9056 novos empregos em Portugal. As contas mais recentes da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário apontam para um total de 620 mil empregos no sector. Um número ainda distante dos 900 mil registados em 2000, mas que os especialistas olham com otimismo. Tanto mais o licenciamento de obras para novos edifícios também (12% entre abril e junho deste ano) e Portugal continua a estar na rota dos investidores internacionais para imobiliário de luxo, segundo diversos rankings da especialidade.

Os números do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) refletem a boa maré em que navega o sector. O relatório mensal do mercado de emprego revela que apesar do sector das atividades imobiliárias ainda registar um nível elevado de desempregados inscritos (99.805), o número de ofertas de emprego disponíveis na área tem estado a aumentar. Em agosto deste ano somaram-se mais 1192 ofertas disponíveis do que no mês anterior, passando o sector a totalizar 3211 vagas. Mas não foi só a dinâmica de criação de emprego que mudou no imobiliário nos últimos ano. As exigências das empresas que contratam também.

Profissionalização e qualificação tornaram-se nos últimos anos palavras de ordem num sector que há muito não se compadece com o amadorismo. A imposição da qualificação foi para Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal “das poucas – senão mesmo a única – vantagens que a crise trouxe”. O líder confirma que os maus momento que o imobiliário nacional atravessou forçaram os profissionais a adaptar-se aos novos paradigmas que o mercado impôs, com uma procura e uma oferta cada vez mais exigentes.

“O emprego gerado no sector é hoje muito diverso. Não se criam só empregos diretos nas empresas de mediação imobiliária, como indiretos, para o sector da construção e para todo um mercado que funciona em paralelo: gestão de arrendamentos, alojamento local, condomínio, turismo, hotelaria e por ai em diante”, explica. Mais qualificados e globais Pedro Martins, senior manager da Michael Page Property & Construction, confirma: “Este mercado está cada vez mais especializado”. O responsável reforça que as empresas “procuram profissionais com forte visão estratégica e técnica, que pretendam apoiá-las no cumprimento das suas metas e objetivos”. Para algumas funções – mais relacionadas com a gestão – o grau de exigência pode incluir até um MBA. Gestores de projeto, diretores de obra, diretores de fiscalização, responsáveis de desenvolvimento de negócio e perfis comerciais muito qualificados e experientes e funções técnicas de suporte, podem vir a registar um reforço na procura a curto médio prazo.

“A evolução do emprego no sector tem-se traduzido num aumento da procura de profissionais sobretudo em funções comerciais e de direção e gestão de equipas”, explica Carla Rebelo, diretora-geral da Adecco Portugal. A líder fala numa mudança de paradigma associada ao perfil dos profissionais do sector que, explica, “tem claramente que ver com o tipo de venda e de abordagem comercial consultiva deste mercado, assente num conhecimento específico do produto, da capacidade de negociação, fluência de idiomas, conhecimento de tecnologias e marketing digital e, principalmente, relacionamento interpessoal”.

O sector ainda não recuperou os empregos que eliminou no período de crise

Carla Rebelo

Fruto desta crescente exigência, o imobiliário nacional tem conseguido atrair profissionais das mais diferentes áreas que procuram no sector uma oportunidade de reconversão profissional. João Apolinário, diretor de Recursos Humanos e Expansão da Remax Vantagem, recruta anualmente mais de 100 consultores. “O número de pessoas com outras qualificações que começaram a olhar para esta área cresceu consideravelmente”, admite. Professores, engenheiros, arquitetos, profissionais da banca, empreendedores e perfis de muitas outras origem fazem hoje carreira na Remax Vantagem e estão também entre o leque de profissionais que Sandra Soares, administradora do Knowledge Paradise Group, agrega as empresas de recrutamento KPSA e SKSA, recruta para o sector. Para a líder, o mind-set do imobiliário mudou nos últimos anos e há hoje um novo olhar sobre as carreiras nesta área, nomeadamente as mais comerciais. “As profissões imobiliárias têm vindo a deixar de ser encaradas como como o fim da linha e o último recurso”, explica. Para esta nova visão, muito terá contribuído a tendência para “deixarmos de falar de vendedores (com uma conotação pejorativa) e passarmos a falar de consultores, conselheiros de investimento, que para desenvolverem atividade têm hoje de ter formação base, académica e profissional”, reforça. Longe ainda de alcançar os níveis de emprego pré-crise, o imobiliário nacional está mais qualificado do que alguma vez foi.

in Expresso – Texto de Cátia Mateus com participação de Carla Rebelo, CEO Adecco Portugal