5 traços de um mártir do trabalho

23 Dezembro, 2021

Os sintomas e remédios para um postura que afeta a saúde mental, as relações dentro e fora do trabalho, a eficácia e a produtividade

 

Trabalhar horas a fio, estar disponível 24/7, auto-pressão para estar constantemente ligado ao trabalho, ter dificuldade em pedir ajuda, ou sentir que as pausas podem colocá-lo na lista dos descartáveis da empresa, são alguns dos sintomas de um mártir de trabalho. A postura compromete as relações e a saúde mental, aumenta os níveis de stresse e está aquém de gerar mais eficácia e produtividade no exercício das funções. A Adecco Portugal elenca os cinco traços de um mártir do trabalho e sugere dicas para mitigar esta forma de estar no trabalho e na vida.

 

Os mártires do trabalho são os ‘parentes próximos” dos adictos ao trabalho, profissionais que trabalham horas sem fim porque acreditam ser os únicos na empresa capazes de fazer o seu trabalho (e esperam que o seu líder repare na sua dedicação e os considere como ‘indispensáveis’). Mais, os mártires do trabalho acreditam que são demasiado valiosos para a empresa para fazer uma pausa.

A verdade é que ser um mártir de trabalho não é bom para a saúde, para as relações ou mesmo para o salário de um profissional, que aufere sempre muito aquém face às horas que dedica ao trabalho, sem que seja necessariamente mais produtivo, eficaz e reconhecido com uma promoção ou aumento de ordenado. Bem pelo contrário: horas de trabalho a mais repercutem-se mais tarde ou mais cedo na capacidade concentração, aumento do stresse, eficácia e produtividade.

Se identificar que mais de uma das seguintes cinco características pode ser usada para o descrever, as hipóteses de ser um mártir de trabalho são elevadas. É tempo de parar de se perseguir a si próprio, ou talvez encontrar um trabalho onde não tenha de sofrer para se sentir valorizado.

 

Como identificar um mártir de trabalho

 

  1. Faz pressão sobre si próprio para estar constantemente disponível

Os mártires do trabalho confundem frequentemente a ambição com o número de horas trabalhadas, dentro e fora do local de trabalho, e a disponibilidade 24/7 como métricas de realização.

Se sente a constante necessidade de mostrar ao seu líder de equipa e colegas de trabalho que está a fazer horas extra, quer seja para usar plataformas digitais de comunicação de trabalho durante as férias, responder a um e-mail à uma da manhã, ou ir escritório em dias de folga, é um exemplo típico da postura de um mártir. Mas em vez de impulsionar a sua carreira, está a prejudicar-se a si próprio ao estabelecer expetativas de disponibilidade tão elevadas que o mais provável é ficar preso a uma repetição interminável deste padrão.

A solução é mudar as prioridades e concentrar-se nos pontos mais importantes da agenda de trabalho, aqueles que são importantes para todos na empresa. Certifique-se de que é claro quanto às prioridades do seu líder e alinhe o seu trabalho com essa lista. Todos reconhecerão e valorizarão o tempo que se despende a trabalhar nos projetos mais relevantes para a organização. Em última análise, é a qualidade e eficácia do trabalho que conta, e não o número de horas trabalhadas.

Quanto às tarefas pendentes, pergunte ao seu líder quais as que será mais sensato libertar até ter tempo para poder voltar à sua operacionalização.

Finalmente, estabeleça diariamente tempo livre para si e aprenda a controlar a frequência com que verifica o e-mail. Se for absolutamente necessário, verifique uma vez depois do jantar e evite voltar a olhar para a caixa de entrada até à manhã seguinte.

 

  1. Sente frequentemente níveis elevados de stresse

Os mártires do trabalho costumam sentir-se mais stressados no local de trabalho em comparação com os seus colegas porque sacrificam, frequentemente, as suas próprias necessidades físicas, emocionais e psicológicas. Os níveis elevados de stresse no trabalho contribuem para uma saúde precária, más decisões e esgotamento. Não só a saúde mental, como também a física, são brutalmente impactadas e a aparência costuma espelhar esse estado geral de debilidade.

Para reduzir os stresse no trabalho, procure libertar o tempo para o exercício de uma atividade lúdica e torná-la num evento regular do seu quotidiano. A ideia é encontrar um interesse positivo para dirigir a sua personalidade obsessiva. Pode ser meditação, dança, caminhada, jardinagem, puzzles, o que lhe agradar mais, sendo que a ciência já provou que durante a atividade física, o corpo produz naturalmente mais serotonina e endorfina, neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar e que ajudam a reduzir o stresse e a ansiedade. Isso causa a chamada “estabilização afetiva”, que ajuda a memória e melhora a capacidade de raciocínio.

 

  1. Não confia totalmente nos seus colegas de trabalho para fazer o seu trabalho

Esta é uma das razões pelas quais o seu trabalho é tão demorado e stressante? Está basicamente a fazer o trabalho de outra pessoa, ou duas, ou três? É necessário avaliar por que razão tem esta carga, se é atribuída pelas lideranças, ou se é um excesso de tarefas que se impõe a si próprio.

Um mártir de trabalho acredita que é a única pessoa na empresa que pode fazer o seu trabalho e , muitas vezes, pensa que pode fazer outros trabalhos melhor do que os seus colegas. Independentemente de o sentimento de auto-importância ser legítimo, é provável que seja contraproducente.

Os mártires do local de trabalho precisam de aumentar a autoestima, pois é a sua falta que os faz colocarem-se na posição de vítimas. A sua intenção é ser notada e incomodarão os outros com os seus dramas no local de trabalho.

Em vez de agitar a bandeira de mártir, a solução é sorrir, respirar fundo e pedir ajuda a um colega de trabalho, sem pedir desculpa, “Pode ajudar-me com X?”.

Para se sentir confortável a pedir ajuda, tente a terapia de conversa; pode ajudá-lo não só com problemas de trabalho, mas também com a compreensão de outras partes da sua vida onde possa estar a substituir-se a outras pessoas. Se a culpa levar a melhor sobre si, a terapia pode também ensiná-lo a impor limites e a deixar de lado problemas e tarefas que nem sequer eram suas.

 

  1. Pensa que pedir ajuda o faz parecer inepto

Quando foi a última vez que disse ao seu líder de equipa que estava assoberbado e que precisava de ajuda para estabelecer prioridades para as tarefas que tinha em mãos? Se não se lembrar, não é um bom sinal. Os mártires do trabalho tendem a receber menos ajuda dos colegas ou do seu líder, mesmo quando precisam dela.

Provavelmente, associa um pedido de ajuda à inépcia no trabalho. A verdade é que irá ficar sufocado se não enviar um S.O.S. ao seu líder que, pelo seu silêncio, pode ser levado a pensar que está tudo bem e que não o prejudicará se lhe atribuir mais tarefas. Pare, respire e peça ajuda antes que a situação fique descontrolada.

A solução é perguntar ao líder se pode adjudicar um colega de trabalho para o ajudar nas tarefas de rotina, para que se possa concentrar nas mais importantes. Isto permite que os colegas de trabalho se sintam envolvidos e colaborem consigo na realização dos objetivos. Também permite ao seu líder ter a noção de que pode estar sobrecarregado. Nem sempre os outros adivinham o que sentimos, pelo que a comunicação é a solução mais eficaz.

Adquira o hábito de rever as suas tarefas com o seu chefe e fazer ‘pontos de situação’ de trabalho. Como parte da agenda, escreva o que vai priorizar e diga: “Se tenho de deixar ir algo para alcançar X, concorda que deve ser Y?

 

  1. Os seus esforços extra parecem não compensar

Os esforços extra dos mártires do trabalho muitas vezes não lhes permitem ganhar tanto dinheiro como os colegas que tiram férias, trabalham horas normais de trabalho e criam limites de separação na vida pessoal/trabalho.

Se não houver um retorno justo do investimento para o sangue, suor e lágrimas extra que está a despender, tem um problema. Quando parece que investiu mais tempo do que outros e não conseguiu mais e melhores resultados, vai sentir-se injustiçado e, novamente, reforçado no seu sentimento de vítima.

A solução é abordar este assunto nas suas reuniões regulares com a chefia: prepare uma lista das suas realizações e peça um momento para discutir o seu desempenho. Se o seu líder lhe der um feedback positivo, pergunte sobre a possibilidade de um aumento ou promoção. Se não o pedir, nunca o conseguirá.

Se o feedback for morno, pergunte se o pode ajudar a elaborar objetivos que o ajudem a crescer no seu trabalho e lembre-se que é muito provável que aconteça um aumento na compensação se demonstrar que sabe como gerir o seu tempo, ao mesmo tempo que desfruta de dias de férias merecidos que são essenciais para o seu-bem estar.