O número mágico

27 Agosto, 2020

As crises não são para principiantes. Para as enfrentar, é preciso uma dose bem combinada de algum talento e de muitos resultados.

Pode gerir-se uma catástrofe? Não, mas podem gerir-se aspetos da situação.

Nenhuma crise é intransponível, como referem os Profs. Van der Heyden e Nathanial ambos do Insead, no working paper que publicaram no final do mês de Março deste ano, que fica para sempre registado como um ano de viragem.

As crises não são, tão pouco, o momento para aprender ou reinventar o que já deveria ser sabido….Numa crise, o tempo é o inimigo e a avaliação mais consensual é a de que, a forma como se entra numa crise nunca é o modo como se sai dela.

Em tempos como estes, ganha especial impacto a expressão tão conhecida de Benjamin Franklin “by failing to prepare you are preparing to fail”. Quer seja para uma reunião com um cliente, para uma entrevista ou um completo plano de negócios, preparar é condição essencial, porém não suficiente, para o sucesso. Facilmente se percebe que as empresas e as equipas que não se prepararam nos tempos mais fáceis tenham mais dificuldade em gerir esta disrupção.

Os resultados derivam da fórmula talento + preparação. Levitin fala das 10.000 horas para se adquirir mestria, no livro This is Your Brain on Music, Understanding a Human Obsession. “A prática não é o que se faz quando se é bom. É o que se faz para nos tornarmos bons”, acrescenta Gladwell no livro Outliers.

Preparar e praticar incansavelmente são duas das chaves para progredir na carreira. Preparar, significa também requalificar, aprender continuamente, procurar sempre melhorar. É verdade que este discurso se torna démodé quando se transmite às novas gerações a ideia de que se podem queimar etapas.

Na gestão de uma crise nunca se tem toda a informação, mas a tomada de decisão tem de ser mais rápida do que em modo de normalidade. O conhecimento, a intuição e a sabedoria para liderar em cenários extremos como o que atravessamos, preparam o profissional, às 10.000 horas.

Não se podem queimar etapas, pode-se, isso sim, intensificar o esforço e completar as 10.000 horas em 5 anos, praticando 40 horas/semana ou em 10 anos praticando 20 horas/semana.

Trata-se de pura matemática e da simples, mas vale a pena pensar nisto.

Carla Rebelo, Diretora Geral Adecco Portugal

In Jornal Expresso, 15 de Agosto de 2020