O Big Bang no mercado de trabalho

26 Março, 2021

Liderança em tempo de pandemia requer muita empatia, capacidade de improvisar, de priorizar sem planeamento e de propiciar um ambiente feliz e tranquilo às equipas de trabalho

“O perfil procurado antes e depois da pandemia não é indiferente: deu-se uma espécie de big bang, em que as empresas se deram conta de que precisavam de um perfil polivalente, de pessoas que conseguissem improvisar e priorizar com muita rapidez para dar respostas perante um fenómeno que as matrizes de risk assessment não previam”, afirma Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal.

 

A pandemia, a incerteza económica e a agitação social moldaram um novo paradigma: as empresas foram desafiadas a responder de forma ágil e a improvisar perante um fenómeno inédito que obrigou a reformular todos os exercícios de construção de cenários e planeamento. Para fazer face a desafios inesperados, as empresas precisaram de pessoas com essa capacidade de improvisação e resposta perante funções para as quais nunca tinham sido chamadas a desempenhar. Também no mercado de trabalho, a pandemia obrigou a fazerresetdo que é o perfil do colaborador e líder do agora e do futuro: polivalente, ágil e flexível.

 

Em síntese, foi este o contributo que Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal e Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional do ISCTE, trouxe ao Alumni Talks do ISCTE, que desafiou os ex-alunos da instituição a debater tema: ‘Mudar de emprego na pandemia: desafios e oportunidades’’.

Carla Rebelo não tem dúvidas de que “o perfil procurado pelas empresas não é indiferente antes e depois da pandemia: deu-se uma espécie de big bang, em que as empresas se deram conta de que precisavam de um perfil polivalente, de pessoas que conseguissem improvisar com muita rapidez porque, de facto, não havia planos: as matrizes de risk assessment das empresas não previam, até então, um fenómeno desta natureza, pelo menos com likelihood impact relevante”.

 

Neste contexto, as empresas foram obrigadas a olhar para os seus colaboradores e avaliar se teriam ou não pessoas que conseguissem desempenhar tarefas fora da sua zona de conforto, mesmo sem preparação, dotadas de algumas valências para as quais nunca foram recrutadas e que, perante a incerteza, consigam motivar os outros a seguir em frente. Daqui emerge a importância da liderança que, neste período de pandemia, foi um enorme clarificador das pessoas que têm, ou não, um perfil inato que se espera nas posições de liderança. “Eu diria pessoas com polivalência, capacidade de agir com improviso, mesmo sem planeamento, o que demonstra o nível de flexibilidade que a pessoa possa ter; mas também muita empatia, capacidade de se colocar no papel do outro, e priorizar”, resume Carla Rebelo.  “São valências que não estavam claras antes da pandemia: as empresas recrutavam muito com base na especialização dos recursos, e no track record provado da pessoa numa área específica, e com referenciais de desempenho muito cartesianos. Explorava-se pouco a capacidade de as pessoas lidarem com a incerteza e isso agora ficou muito óbvio nos pedidos de recrutamento que temos na Adecco”, clarifica.

 

Onboarding em tempo de pandemia: copy/paste de boas práticas poupa tempo, investimento, traz bons resultados e deixa as pessoas felizes

Liderar significa também estar consciente do goodwill do capital humano da empresa e a importância de manter um ambiente de interação e comunicação fluido, que é obviamente mais um desafio acrescido da pandemia, em particular nos períodos de confinamento. Fazer o onboarding de colaboradores totalmente digital, quando a Adecco tem indicadores que as maiores taxas de desistência das pessoas se registam nos primeiros dias de inserção das empresas é um aspeto particularmente sensível. Carla Rebelo alerta que, neste contexto, as empresas devem aprender com quem já está a trabalhar há muitos anos naquele que é o novo paradigma para uma percentagem muito relevante de empresas no contexto atual: o trabalho remoto.

 

“O que fizemos foi olhar para as empresas de base tecnológica que trabalham totalmente no digital há muito tempo, eventualmente com encontros presenciais uma vez por ano, e enquadrámos algumas práticas na Adecco, que recomendámos aos nossos clientes, que de um modo geral funcionam bem: a abertura de slots digitais, salas de convívio onde não é suposto falar de trabalho. Temos a sala do café, do chá, do sumo de laranja, do chocolate quente, onde as pessoas se encontram durante 15 minutos / meia-hora como se de uma pausa presencial se tratasse. Esta é uma ferramenta importante no onboarding, com certeza, tanto quanto para manterem comunicação informal as equipas que foram obrigadas a migrar para o online, ajudando a manter os hábitos quotidianos que os colaboradores tinham em regime presencial”, ilustra a CEO da Adecco Portugal. “É uma solução simples, as pessoas ficam mais felizes e, se podemos aliviar algum sofrimento, porque não implementar na empresa?” Carla Rebelo deixa o desafio.