Liderança antichoque

7 Janeiro, 2019

A relevância do papel de um bom líder pode observar-se nas mais variadas situações da vida. Até em pleno concerto de música clássica : foi há alguns anos, mais precisamente em 1998, que a famosa pianista portuguesa, Maria João Pires, sofreu, em plena casa de concertos de Amesterdão (Concertgebouw) um implacável rapto da sua amígdala. Conseguiu vencer porém,  graças a um profundo autoconhecimento mas também pela inigualável mestria do Maestro italiano Riccardo Chailly  sob a direção de quem, naquela tarde atuava.

Em plena performance, numa sala totalmente lotada, com um público exigente e expectante, a pianista apercebe-se que a orquestra começa a tocar uma peça diferente daquela que esperava. Contava tocar o concerto para piano nr. 21 de Mozart, mas logo nos primeiras notas percebeu que o que estava a ser tocado não era a obra para a qual se havia preparado. A verdade é que dali a exatos 2 minutos e 28 segundos teria que entrar a solo ao piano, numa das casas de concerto mais prestigiadas do Mundo.

A pianista sussurra, em pânico, ao maestro, entre notas e compassos, que não tinha a partitura daquela peça, e recebe de Riccardo Chailly um sorriso e uma confiança de que conseguiria tocar de memória dado que era uma peça que conhecia tão bem. Segundo o Maestro a Pianista começou por reagir como se tivesse apanhado um autêntico choque elétrico!  O que aconteceu afinal? Na parte mais primitiva do cérebro, também chamado de reptiliano, a amígdala tem a função de zelar pela sobrevivência. Quando deteta situações de perigo ou ansiedade desencadeia uma resposta biológica de secreção de adrenalina e cortisol que, ao mesmo que conferem imunidade à dor, para poder lutar pela sobrevivência, também impedem o acesso a outras partes do cérebro mais racionais como o néo – cortex. Como a memória está armazenada nesse cérebro racional, era essencial acalmar, dando a informação contrária de ausência de perigo para que assim as substâncias bloqueantes deixassem de ser libertadas.

Maria João revelou um profundo autoconhecimento e naqueles segundos conseguiu reverter a sua condição. Contudo o outro herói foi sem dúvida, o Líder, o Maestro que soube transmitir a informação necessária para a ajudar a restabelecer a autoconfiança e o sentimento de segurança. Esta é pois, a combinação vitoriosa em qualquer equipa, em qualquer empresa. Pessoas que por um lado procuram melhorar o seu auto conhecimento e Líderes que entendem realmente o impacto das suas ações. Porque um verdadeiro Líder deve sempre acreditar que “impossible is just someone´s opinion”.

Carla Rebelo, CEO Adecco Group Portugal

In Jornal Expresso, 12 de Janeiro de 2019