A lei do menor esforço: da evolução à extinção

18 Fevereiro, 2022

Grande parte do comportamento humano consegue ser descodificado à luz dos conceitos da Psicologia evolucionista. A cópia, como prática incumbente à espécie Homo Sapiens é um deles. Para poupar energia, num ambiente de alimento escasso a solução foi programar o cérebro para procurar sempre o caminho mais curto na resolução de qualquer tarefa, atividade ou problema.

Na vida empresarial, dentro de empresas do mesmo Grupo, utiliza-se partilha de boas práticas justamente para acelerar implementações de processos e obter melhores resultados. Chama-se de boa prática porque é uma cópia legítima do proprietário da informação que é a empresa.

Acontece que, a fronteira que define uma cópia como boa prática ou usurpação é exatamente os direitos de autoria da mesma. Sempre que se trata de copiar de modo selvagem o que outros produzem ou criam, entramos na rota meteórica da extinção e não mais da evolução. A verdade é que copiar se tornou obsessão.

Como gestora, mas também como docente universitária, surpreende-me como essa escolha está enraizada. Quando deixamos de conseguir ou sequer de querer criar, surge o primeiro sinal de alarme. Inicia-se a deterioração da condição humana, pelo menos ao nível da sua inteligência, porque desistimos de utilizar as capacidades cognitivas com que fomos equipados. É essa a escolha feita quando assistimos a práticas de gestão que escolhem copiar, copiar, copiar a qualquer preço. Seja violando direitos de confidencialidade, leis da concorrência ou ainda violando princípios éticos e morais milenares.

Mas há quem argumente que o que temos agora é uma crise de valores, porque talvez sempre se tenha copiado, só que agora se faz, sem vergonha nem pudor, vulgo à descarada.

Não esqueçamos que o referencial ESG, hoje tão aclamado pela sociedade e pelas empresas, continua a incluir a importância da boa Corporate Governance e um dos passos essenciais é garantir que os seus funcionários se abstém de práticas primitivas, que apenas seriam toleradas quiçá antes do surgimento do neo-cortex, região do cérebro que, como é consabido, funciona como controlo inibitório de todos os atos que se beneficiam com melhor reflexão.

Ou, como diria um dos maiores empreendedores portugueses: “Se você for uma grande pessoa, o resto fica pequeno”

Carla Rebelo | CEO Adecco Portugal in Jornal Expresso