A Neurociência da Confiança

24 Maio, 2021

Se há tema que mais tem preocupado as empresas em matéria de boas práticas de RH no último par de anos é o nível de engagement dos seus funcionários. Sabe-se que os benefícios do engagement incluem o aumento da produtividade, produtos ou serviços de melhor qualidade e uma rentabilidade superior. Este indicador recolhe-se já em larga escala, atualmente através de vários softwares muito práticos da recolha do chamado “pulso” dos colaboradores. Só que, não se encontra algo quando se procura no local errado. A prova desta preciosa e poderosa ligação não está no pulso, mas sim no cérebro. Expliquemos melhor.

Está hoje cientificamente provado (Zak, Paul J., 2017) que uma cultura de confiança é a única base para construir um engagement sólido e duradouro. Mimos, vantagens aleatórias e casual Fridays podem criar uma felicidade momentânea no curto prazo, mas não conseguem garantir efeitos duradouros quanto à retenção de talento e desempenho. Portanto, o foco das organizações deve ser: como construir, manter e gerir uma cultura de confiança.

Começamos pelo básico: Como é que duas pessoas estabelecem uma relação de confiança? Em alguns animais, existe um sinal neurológico químico que é emitido quando é “seguro” outro aproximar-se. Trata-se da oxitocina, uma das hormonas produzidas pelo hipotálamo e que entre outras características é a responsável pelos laços de empatia e ligação afetiva entre os animais. O mesmo acontece com as pessoas. Assim, quanto mais confiança sentimos, mais oxitocina produzimos e mais ligados ficamos. É o que nos faz sentir como membros do grupo, sentimento tão essencial para a espécie humana.

Para aumentar a confiança numa organização são necessários, segundo Zak, alguns comportamentos por parte dos gestores: i. reconhecer a excelência; ii. induzir o stress do desafio; iii. dar às pessoas liberdade para concretizar o resultado; iv. incentivar o job crafting; v. partilha transparente de informação; vi. mostrar vulnerabilidade; vii. construir um relacionamento próximo e, viii. promover e aceitar a pessoa “inteira”. Serão com certeza poucos os gestores que podem dizer que fazem tudo isto. A boa notícia é que este pode ser um roadmap para aumentar o engagement da sua equipa, já.

Experimentámos todos as vantagens óbvias do trabalho remoto, mas o que nos deve preocupar agora são as desvantagens invisíveis de não estarmos fisicamente juntos. Como sobrevive a oxitocina, insubstituível elemento para gerar a confiança, num mundo que terá doravante sempre algum grau on line?

Carla Rebelo – Diretora Geral da Adecco Portugal

In Jornal Expresso | Economia , 7 de Maio de 2021