A ética, a excelência e a boa liderança

9 Julho, 2021

O conceito de excelência moral para Aristóteles centra-se no conceito de hábito. Para o filósofo grego, na sua célebre obra “Ética a Nicômaco”, a virtude moral é adquirida como resultado da prática. Ou seja, os homens tornam-se o que são pelo hábito. Portanto, o hábito, que é uma virtude moral gerada pela disposição e carácter, leva à excelência. Caso o homem se esforce para atingir essa excelência, isso o tornará uma pessoa virtuosa. Aristóteles escreveu que o “melhor de todos é o que procura a excelência tanto para si próprio como para outrem”. Pode assim olhar-se para a ética como um preditor de excelência.

Na visão Aristotélica, o ser humano não nasce ético, mas torna-se, a partir da vivência e da busca virtuosa de tudo aquilo que é nobre e edificador para o homem. Ser ético exige um esforço racional e um forte empenho para dar valência e dinâmica à alma humana. Essencialmente o filósofo apresenta a ética no campo prático: é exercendo a ética que nos tornamos éticos.

Para além da filosofia, ver o ser humano através da neurociência ajuda-nos a conhecer as dinâmicas da emoção. Os cientistas dizem que somos o nosso conectoma (a place where nature meets nurture) que é a imagem das conexões do cérebro, sendo que, a variedade das nossas experiências o muda constantemente. A forma como nos comportamos, como reagimos e como pensamos está nessa exata imagem.

Porém, são ainda poucos os líderes que entendem o efeito da bioquímica do cérebro e a plasticidade dos tecidos cerebrais. Segundo os neurocientistas, tudo o que nós vivemos através das emoções são reações químicas do cérebro. Os pensamentos produzem as emoções que por sua vez determinam comportamentos. No entanto, nas empresas, é mais comum ver o líder dedicar-se a tentar alterar comportamentos do que a modificar os pensamentos.

Será possível ser um bom líder sem saber que a ética é a única forma de atingir a felicidade, e que esta por sua vez, e pela sua prática conduz à excelência? Sabemos que no nosso cérebro temos uma infindável construção de redes sinápticas ligando neurónios e que quando dois neurónios são ativados ao mesmo tempo eles tendem a conectar-se. A isto se chama criar um hábito. E se o hábito faz o monge, a excelência faz a boa liderança.

Carla Rebelo – Diretora Geral da Adecco Portugal

In Jornal Expresso, 2 Julho de 2021