Inteligência Multifocal

29 Janeiro, 2018

Vivemos na Era do (des)conhecimento. Continuamos a avaliar o talento com base em capacidades técnicas e na inteligência. Mas qual inteligência? É que já há quem tenha provado há algum tempo que a inteligência deve ser aferida de forma diferente.

Augusto Cury é um cientista e pesquisador de psicologia e autor de uma importante teoria sobre o funcionamento da mente: a Teoria Multifocal.

Para a Psicologia Multifocal,  a definição de inteligência é abrangente e com multiplas áreas que participam na sua formação. O conceito global de inteligência multifocal entra em três grandes áreas. As duas primeiras inconscientes e a última consciente.

A primeira área é a mais profunda e refere-se aos fenómenos inconscientes que atuam em milésimos de segundos no resgate e na organização das informações da memória e, por consequência, na construção de pensamentos e emoções. A gestão dos pensamentos é fundamental na forma como cada um resolve os diversos desafios da sua vida pessoal e profissional.

A segunda área inclui variáveis complexas que influenciam a forma como se faz a leitura da memória e aparece como o produto de um cruzamento de diversos fatores desde genética, cultura, ambiente social, estado emocional e motivacional.

A terceira grande área refere-se aos resultados das duas primeiras. Nesta encontram-se os comportamentos perceptíveis, capazes de ser analisados, avaliados, aferidos. É onde se evidencia a rapidez de raciocínio, o grau de memorização, a capacidade de assimilação de informações, o grau de maturidade nos focos de tensão bem como os níveis de tolerância entre outros.

Decifrar os códigos de inteligência de cada candidato é o trabalho do recrutador todos os dias e isso implica atualização constante ao nível do conhecimento científico. Com o “apagão” de talento que se vive em Portugal, a vários níveis de qualificação, não aprimorar e enriquecer o processo de identificação, avaliação e seleção das pessoas é desperdiçar de modo imperdoável recursos necessários para fazer o País avançar.

A velocidade da mudança de hoje adivinha disrupções a vários níveis, em vários processos das empresas e os mais urgentes são todos os que se relacionam com a gestão de talento. A verdade é que ainda falamos em avaliações de desempenho com datas marcadas mas muito pouco no feedback imediato on the job adoptado atualmente por muitas empresas noutros Países…

Porque resistimos tanto a um futuro que já é passado e o que é feito da substância sobre a forma?

Carla Rebelo, Diretora Geral, The Adecco Group, Portugal

In Jornal Expresso, 27 de Janeiro de 2018