A decisão e a intuição, poderosa ou desalinhada?

16 Janeiro, 2017

Os modelos de tomada de decisão racionais, são válidos e necessários, mas são raramente utilizados no decurso das atividades de negócio do dia a dia. Apesar de existirem alturas em que devam ser usados mas não o são, é contudo apropriado que sejam utilizados com peso e medida. Uma das razões para isto é que estes processos requerem uma grande quantidade de tempo, algo que raramente dispomos em contexto de negócios, num mundo permanentemente em mudança. E a máxima custo/benefício não deve ser esquecida, resistindo a um fenómeno muito frequente hoje nas organizações e a que nos habituamos a chamar over-engineering.

Sendo especialista num domínio é certo que se conseguem tomar decisões que são igualmente boas mas que requerem muito menos tempo a formular face a um processo estritamente científico. A verdade é que, apesar do facto de por vezes usarmos o pensamento raciocínio-dedutivo, a análise de probabilidade e os métodos estatísticos para dar forma à decisão, em ambientes naturais, as decisões são raramente analíticas, e são antes formadas pela intuição, simulação mental, metáforas ou vulgo senso comum. Através da heurística conseguimos dimensionar rapidamente uma situação.

O poder da simulação mental deixa-nos imaginar como o decurso da ação pode evoluir. O poder da metáfora permite-nos desenhar na nossa experiência, sugerindo-nos paralelos entre a situação atual e algo mais que suceda. Esta é uma intuição poderosa.

Se, caso contrário, uma determinada área nos é nova, a decisão assenta num processo relativamente lento de recolha e compilação de informação, com a respetiva avaliação. De acordo com Klein, os especialistas habitualmente tomam decisões baseadas no que o autor chama “Recognition-Primed Decision Model” (RPD). Este modelo combina dois processos: o modo como os decisores dimensionam a situação, para reconhecer que a linha de ação faz sentido e o modo como avaliam o decurso da ação, imaginando-a.

Isto significa, portanto, que há que ter cuidado com a intuição. Esta apenas deve ser utilizada quando se capitalizou suficientemente na experiência, pois caso contrário será simplesmente decidir de modo irresponsável, recorrendo a uma intuição apenas perigosa.

 

Carla Rebelo – Diretora Geral Adecco Portugal

in Expresso Economia